Crônicas

Francisco de Assis Martins

Titular da Cadeira nº 15

BOM DIA IPU.

          Eram as primeiras horas da madrugada quando resolvi me levantar. E assim fiz. Ainda escuro fui até a porta da frente e abri-a. Sente-me no batente da própria porta e passei a apreciar os primeiros transeuntes daquele dia que remontam os anos 50/60 e se dirigiam com os seus potes, latas na cabeça e outros tangendo os jumentinhos com quatro canecos d’água que iam colher no murmurante Ipuçaba a água para o consumo diário inclusive para beber. Era límpida sem as contaminações que vemos hoje totalmente imprestáveis. O vento batia de levinho no meu rosto e a espiar aquela cena que hoje aflora nos meus pensamentos. Vez por outra um cumprimento uma saudação e um feliz BOM DIA.

          Ipu não possuía água encanada, ou seja, ainda não existia torneira em todas as residências, e a alternativa era pegar água no Riacho para todos os labores de suas casas ou de nossas casas.

          Cena pura e ingênua, genuinamente Ipuense.

         Depois de um tempinho o cenário vai mudando lentamente, são as cores do arrebol a álacre claridade vai se tornando mais penunbrante. E aí podemos escutar o canto do Galo, os corococós da galinha e o passaredo começam a sua festa do olho do coqueiro o estalado renitente a Graúna deixando todos embevecidos (é o nosso conhecido Cupido), não mais distantes o repetido canto dos Galos de Campina dos Sabiás, dos Golinhos enfim, uma sinfonia escrita em vários tons, em ritmos outros recheados de colcheias, breve, semibreve, mínima, semínima, não faltando os falsetes para os mais novos e as quiálteras dos majestosos sabias. Não podemos esquecer o farfalhar das palmas dos coqueirais que ao serem tocadas pelo vento emitem um som maravilhoso bem embevecedor de nossos corações, assim como as palmas da carnaubeira com seu leque também farfalha contagiando toda a madrugada quase rompida.

          E o dia vai rompendo lentamente a alacridade muda, dentro daquela orquestração, novos viandantes, um dia já raiara e a cena agora é outra como prova de sobrevivência as mulheres com as “trouxas de roupa” começam a passar em direção aos oitizeiros para lavar roupas de famílias e mais famílias de nossa IPU.

          Que aurora radiante! Que beleza nas coisas de nossa terra no alvorecer de cada dia.

          Bem, depois tudo nos recolhemos para os asseios corporais e dentários e o costumeiro café da manhã.

          Novo dia, feliz, feliz como Rosicler de um lindo amanhecer na terra de Raimundo e Zezé do Vale.

 

16 de outubro de 2011

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