Crônicas

Abílio Lourenço Martins

Titular da Cadeira nº 12 - Abílio Martins

            Na crônica “Saudades das Festas de Janeiro” publicada no Livro “Reflita, Sorria, Viva”, no ano de 2019, escrevi: “Os olhos de crianças, sabemos, são puros, veem e guardam com magnitude cristalina, como aves de rapina, os acontecimentos distantes e marcantes.”

           Como hei de esquecer as missas das cinco da manhã, levado pelas mãos católicas da minha querida mãe!

           Como hei de esquecer os bancos do Ginásio Ipuense que me abrigou nos primeiros anos do primário!

           Como hei de esquecer do coração apertado de saudades ao ouvir o apito do trem que se aproximava das Pedrinhas, para nos deixar por longos quatro meses no seminário?

           Como hei de esquecer o coração palpitando de alegria quando o mesmo trem despontava no Coste, nos trazendo de férias, na ânsia de  receber os beijos carinhosos dos nossos pais?

          Como hei de esquecer os estabelecimentos comerciais da minha cidade localizados no mercado! Os mais simples chamados de bodegas; os mais refinados, mercearias. Não hei de discriminá-los; neste texto serão todos mercearias. No lado Leste lembro-me: Dona Nenen, Milton Aragão, ourivesaria do Sebastião Soares; após o portão: Afonso, João Afonso (irmão do Afonso), João Gabriel. lado Norte:  sapataria Raimundo Lopes, após o portão, Humberto Taumaturgo, na esquina José Osmar Pontes; lado Leste: Mauro Motas Dias, José Aragão, após o portão: Joaquim Lima (protagonista da crônica “Número 5), na esquina, a loja de tecidos do Gonçalo Melo; Lado Sul: mercearia Manuel Rocha. Em frente, a farmácia Madeira e a “Pharmacia” Iracema; ao lado direito, a padaria, cujos pães chegavam em casa sem os  bicos; mais à frente o Bar Alabama, atravessando a rua, os mais idosos hão de se recordar do Bar Cruzeiro  com as fotos do gordo e o magro e as suas vesperais aos domingos; logo após, a saborosa sorveteira Iraciara. Na mesma rua, após a Farmácia Madeira, o bar do Seu Zé Otávio onde tilintavam as bolas de sinucas. Seguindo, após a casa da Dona Heloísa, a sapataria e barbearia do Mestre Chagas e Seu Osório. Na outra esquina a loja do meu querido pai.

         Ainda, no mercado, como hei de esquecer, na parte interna, da mercearia do Seu joão Passos, onde comumente íamos comprar um quilo de açúcar. Vizinho, os açougues do Seu Chico Mourão, Seu Zé Jovita, Amadeu e Osório onde comprávamos meio quilo de toucinho, trazido cuidadosamente numa palha, pendurado em um dos dedos.

        Como hei de esquecer do Natal, aguardando o Papai Noel deixar o nosso brinquedo debaixo da rede.

        Como hei de esquecer das divertidas manhãs esportivas coordenadas pelo meu querido pai – Antônio Carvalho Martins? Dos jogos disputados na quadra José Dias de Macedo envolvendo os times do Wolga, Brasil e Céu Azul? Das feiras dos sábados? Das festas de janeiro pendurado na roda gigante? Da amplificadora do Nonato Soares anunciando mensagens  apaixonantes? dos banhos no Gangão e nos canos depois dos rachas sob o pé de tamarindo? das incessantes brincadeiras noturnas correndo pela Praça do Quadro; Como hei de esquecer das figuras folclóricas do J da Penha, Pezão, Bamba...? 

       Como hei de esquecer dos meus professores, dos meus amigos!!!

       Como hei de esquecer de ti, Ipu!!!

Fortaleza, 21 nov 2022.

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