Maria das Graças Dias Ribeiro (Grace Ribeiro)
Titular da Cadeira Nº 32 - Patrono: Milton de Sousa Carvalho
Era setembro
Quando no ventre da mãe surgiu
As primeiras dores do parto
A noite estrelada e fria
Na cidade silenciosa e quase vazia
Ouviu-se um choro distante
Da menina que ali nascia
Seus pais vibraram com a linda morena
Da cor da Índia Iracema
Eterna musa de José de Alencar
Com um ano de idade foi morar na Capital
Longe do seu torrão natal
Em casa sempre ouvia falar do Ipu
De seus parentes que ali havia
Da imponente Serra da Ibiapaba
Do canto da cotovia
Da Bica, Véu de Noiva, que dali caía
Abundantemente quando chovia
Quanta vontade ela tinha de conhecer
A terra que a viu nascer
Era um sonho que acalentava noite e dia
Quando completou dez anos de idade
A sua cidade voltou
Chegara à noite, após longa viagem
A casa na beira da estrada
Cercada por terrenos baldios
Abrigava animais silvestres
Que pela manhã entoavam cantos melodiosos
Às vezes assustadores
No primeiro raiar do dia acordara assustada
Então perguntou pra sua mãe:
- o quê é isto, onde estamos ?
Rindo, sua mãe respondeu:
-estamos no IPU, venha aqui ver que bela paisagem !
A menina abriu a janela devagarinho
Encantada, olhava a famosa Bica
De onde estava dava pra ouvir o canto das águas, forte e vibrante
O céu brilhando em cores mescladas, próprias do amanhecer
A lua chorosa, sumia entre árvores frondosas
ao pé da serra
Seus olhos encheram-se de lágrimas
Agradeceu a Deus por ter nascido num lugar tão belo e abençoado pela natureza
Logo lhe veio estes versos :
Água
Água doce
Corrente milagrosa
Rastro fugaz de invernos relâmpagos
Ouro translúcido indispensável
O clamor de vozes sedentas
Te chamam agora em desespero
Somente teu pranto esverdeia o campo
Deixa pra trás a aridez tenebrosa
E a agonia humana.
O reencontro com suas origens foram rápidos, apenas dois anos, tempo que dedicou aos seus estudos no Colégio Patronato. Na Igreja Matriz fez sua primeira comunhão. No tempo livre passeava de bicicleta e descia ladeira abaixo pelas ruas da cidade. Aos domingos ia a Cachoeira do Gangao ou a Bica numa caminhada longa e cansativa, mas ao tomar banho nas águas limpas e cristalinas, relaxava e ria de felicidade. Adorava passear na Pracinha de Iracema, ir ao Clube do Grêmio chupar o picolé de buriti. Ir na estação ver quem chegava no trem azul. Visitava os sítios na Serra Grande, onde tomava o caldo de cana e deliciava-se com a rapadura quentinha. Havia fartura, alegria e brincadeiras. Tudo parecia tranquilo e perfeito até que um dia seus pais anunciaram que iriam morar em outra cidade. Ela não queria acreditar e ficou muito triste, mas seus pais lhe prometeram que ela poderia vir passar as férias escolares na casa de seus tios. Conformada, despediu-se de seus amigos e parentes. Os anos passaram e poucas vezes ela retornou a sua cidade, mas as lembranças que dali levou estão guardadas eternamente em seu coração, pois foram os melhores momentos de sua infância em seu lindo torrão natal, IPU.