Artigos

Cláudio César Magalhães Martins

Titular da Cadeira nº 11

Padre Ibiapina, um apóstolo do Nordeste

      No Carnaval que passou, visitei o Santuário de Santa Fé, localizado em Solânea (PB), onde o Pe. Ibiapina passou os últimos anos de vida e onde repousam os seus restos mortais.

 

            É pouco conhecida a história do Pe. Ibiapina, cuja ação, ao longo da segunda metade do século XIX, o credencia como um dos mais ilustres nordestinos de todos os tempos.

      Seu nascimento ocorreu em Sobral (CE) em 05 de agosto de 1806, tendo por pais Francisco Miguel Pereira e Teresa Maria de Jesus.

            Morou em três cidades do Ceará (Icó, Jardim e Crato), acompanhando seus pais. Em Jardim, iniciou seus estudos de latim e, em Crato, frequentou aulas de religião com o vigário local.

            Em 1823, ingressou no Seminário de Olinda (PE), aos 17 anos de idade, com o objetivo de tornar-se padre.

            Perdeu o pai em 1825, fuzilado em Fortaleza por sua participação na Confederação do Equador. Tal fato o obrigou a interromper seus estudos e regressar ao Ceará para ajudar na manutenção de sua família.

            Em 1828, matriculou-se novamente no Seminário de Olinda, sendo aprovado para o curso de Ciências Jurídicas e Sociais de Pernambuco e passando a morar no Mosteiro de São Bento, em Olinda. Após uma brilhante trajetória, formou-se em Direito, bacharelando-se no final de 1832.

            Por proposta unânime da congregação dos professores, foi indicado para ser professor de Direito Natural. Em seguida, foi eleito Deputado Geral para representar o Ceará na Assembleia Legislativa Nacional, no Rio de Janeiro.

            Em 1834, foi nomeado Juiz de Direito e Chefe de Polícia da Comarca de Campo Maior (hoje Quixeramobim). No ano seguinte, retornou ao Rio de Janeiro, onde reassumiu seu mandato de deputado, lá permanecendo até 1837, ano em que desistiu da vida política. Passou, então, a exercer a advocacia no Recife.

            Em 1838, foi convidado a advogar na Vila Real do Brejo de Areia, na Paraíba, fixando residência permanente no Recife somente a partir de 1840, quando instalou um escritório de advocacia, no Pátio do Carmo, tendo advogado na cidade por dez anos. Foi considerado um dos mais conceituados advogados do Recife e conhecido como defensor dos pobres.

            A partir de 1850, no entanto, resolveu abandonar a carreira e passou a morar numa pequena casa no sítio Caxangá, no Recife. Dedicou-se a rezar, meditar, estudar teologia e filosofia, além de fazer caridade. Três anos depois, resolveu seguir o sacerdócio, ordenando-se em julho de 1853, aos 47 anos de idade, como Padre Ibiapina .

            Doou, então, tudo que possuía, demonstrando total desapego aos bens materiais.

            Em 1854, por decreto Imperial, foi nomeado lente de Eloquência Sagrada do Seminário de Olinda, tornando-se professor de História Sagrada e Eclesiástica da instituição, em janeiro de 1855. No dia 8 de dezembro desse mesmo ano, alterou seu nome para José Antônio de Maria Ibiapina, em homenagem à Imaculada Conceição de Maria. Em 1866, foi nomeado Visitador Diocesano da Paraíba com a tarefa de visitar e supervisionar as atividades da Igreja Católica naquela província.

            Aos 60 anos de idade, abandonou a carreira de professor para iniciar seu trabalho missionário, percorrendo as províncias de Pernambuco, Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte  e Piauí, pregando a palavra de Deus e levando conforto ao sofrido povo nordestino.      Organizou missões, construiu capelas, igrejas, açudes, cacimbas, poços, cemitérios, hospitais e chegou a fundar mais de vinte Casas de Caridade para moças órfãs carentes, as quais recebiam educação religiosa e moral, aprendiam a ler, escrever e executar trabalhos domésticos, além de terem assistência à saúde.

            Faleceu em 19 de janeiro de 1883 na Casa de Caridade Santa Fé, em Solânea, na Paraíba.

            Sobre ele escreveu o notável sociólogo pernambucano Gilberto Freyre:

            "[...] Ibiapina foi realmente uma enorme força moral a serviço da Igreja e do Brasil. [...] Exemplos como o do padre Ibiapina – que,  sozinho, fundou e organizou vinte casas de caridade nos sertões do Nordeste – se impõem aos brasileiros como grandes valores morais. [...]"

        Gilberto Freyre, O exemplo de Ibiapina, prefácio do livro de Celso Mariz, Ibiapina, um apóstolo do Nordeste, 1980

            Está em curso, no Vaticano, o processo de beatificação do Pe. Ibiapina que, em futuro não muito distante, certamente será mais um santo dos altares da Igreja, para honra do povo nordestino.

Mais artigos do Autor.