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Cládio César Magalhães Martins

Titular da Cadeira nº 11

O consagrado poeta português Fernando Pessoa, em seu poema “MAR PORTUGUEZ (grafia da época), externou o pensamento de que “tudo vale a pena se a alma não é pequena.”

            Referia-se o poeta ao desprendimento dos navegadores portugueses que abandonaram tudo (mães, esposas, filhos e noivas) no afã de conquistarem novas terras para sua pátria. O dito pode ser aplicado, também, àquelas pessoas desprendidas e abnegadas que dedicam suas vidas a causas nobres, seja no campo político, social ou religioso.

            Vale citar aqui as figuras de Gandhi, na Índia, Martin Luther King, nos EUA, Nelson Mandela, na África do Sul, Santa Madre Teresa, em Calcutá, e os missionários franciscanos no Nordeste do Brasil.

            O que moveu essas pessoas é a busca de um ideal que a maioria de seus contemporâneos pareceu (ou parece) ignorar. O Brasil atual, fértil em corrupção, violência e descaso para com a coisa pública, pode ser citado como exemplo negativo nesse sentido.

            Poder-se-ia objetar que perseguir ideais sublimes como os que moveram as pessoas supramencionadas é algo inalcançável para a maioria dos seres humanos e que mesmo as personalidades acima citadas não conseguiram mudar o curso do mundo, que continua a girar em torno do egoísmo, do interesse individual, da corrupção e da violência.

            Entretanto, não se pode ignorar que os exemplos dados por pessoas excepcionais inspiram não apenas seus contemporâneos, mas as gerações futuras, ensejando que novos personagens de “alma grande” surjam onde menos se espera.

            Assim é que Gandhi, com sua atitude de oposição não violenta ao domínio inglês na Índia, conseguiu a independência daquele imenso país e ainda hoje tem seguidores; Martin Luther King, inspirado em Gandhi, logrou que as leis americanas de discriminação racial fossem modificadas em prol da população negra daquele país; Nelson Mandela, que, no início, engajou-se na luta armada contra o “apartheid” vigente na África do Sul, cumpriu, em decorrência dessa postura, 27 anos de prisão; uma vez libertado, foi eleito, com grande maioria, presidente de seu país, recusando-se a adotar uma política de represálias contra seus antigos adversários brancos, atitude que contrariava grupos de correligionários radicais; Madre Teresa de Calcutá, nascida na antiga Iugoslávia, mudou-se para Calcutá, na Índia, dedicando-se aos mais pobres entre os pobres e fundando uma ordem religiosa para dar continuidade a sua obra; finalmente, os missionários franciscanos atuantes no sertão nordestino, em grande parte oriundos de países europeus avançados, trouxeram e continuam a trazer consolo espiritual e psicológico aos sofridos habitantes dessa inóspita região, divulgando entre o povo do sertão a mensagem cristã, cheia de fé e esperança.

            Do exposto pode-se concluir que “tudo vale a pena se a alma não é pequena.” Almas mesquinhas jamais teriam condições de liderança para alcançar os ideais de qualquer uma das personalidades acima mencionadas. Registre-se que Gandhi e Martin Luther King pagaram com a própria vida por suas elevadas e corajosas atitudes.

            A nós outros cabe buscar inspiração nos exemplos sublimes que nos deram e tentar dar maior estatura a nossas pequenas almas.

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