Acadêmicos

Cadeira Nº 4

Patrono

Delmiro Augusto da Cruz Gouveia

Acadêmico

Francisco Luciano de Paiva
Posse:   14 Jan 2006
DN: 7 jan

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Discurso do Acadêmico Luciano Paiva durante a sessão de instalação da Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes, ocorrida no Auditório Nilo Souza Carvalho, em 14 de janeiro de 2006.

A Associação dos Filhos e Amigos de Ipu (AFAI) brinda nosso município com a criação da Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes.

De fato, a emancipação política em 1840, a inauguração da via férrea, Rede Viação Cearense (RVC) e de nossa bela estação ferroviária em 1891, do Patronato Sousa Carvalho, com seu colégio feminino em 1950, do Ginásio Ipuense (masculino) em 1952, hoje ambos dedicados aos dois sexos, subsequentemente todos os estabelecimentos de ensino da rede estadual e municipal, a maternidade Dr. Francisco Araújo em 1954, a pavimentação asfáltica da Rodovia da Confiança em 1974 e da CE Ipu-Sobral em 1993 e agora, a fundação desta Academia, se se mantiver nos prumos e se se dedicar a bem moldar a “massa de manobra”, são os marcos preponderantes na história do povo ipuense.

Não vamos compactuar com o erro ou o mal feito.

Por conseguinte, desculpem-nos a cacofonia, mas faz-se mister acabar com a estória do Ipu tinha. Vejamos:

Ipu tinha um belo e amplo teatro - Cine Teatro Moderno. Acabou-se

Ipu tinha a sede regional do IBGE. Foi-se.

Ipu tinha a sede regional da Teleceará, atual Telemar. Evadiu-se.

Ipu tinha a sede regional do INSS. Emigrou.

Ipu tinha a sede regional da Coelce. Abandonou-nos.

Ipu tinha um tradicional “paredão”, uma bela praça com coreto e estátua de Iracema. Disse-nos adeus. 

Ipu tinha várias praças que foram ocupadas por construções, as mais diversas, que bem poderiam ter sido erguidas alhures.

E mais outros “TINHA”.

BASTA!!! BASTA!!! BASTA!!!

E você, caro conterrâneo, se perguntará: Por que tantos “TINHA”?

Porque existe um fenômeno chamado POLÍTICA. Ela joga conosco, às vezes, imperceptivelmente. Faz-nos ricos ou pobres, fortes ou fracos, letrados ou ignorantes, sensíveis ou estúpidos e pode criar o lamentável, macabro e tétrico ciclo vicioso seguinte: muitos dos governantes malbaratam o povo, tratando-o com desdém e desprezo. Agem destarte porque dantes já lhe houveram comprado o voto. Os que o venderam, fizeram-no por uma mixaria. Portanto, continuarão miseráveis, ignorantes, carentes, necessitados, sem se darem conta da importância do voto. E porque assim, continuam à margem do progresso e prontos para na próxima eleição, novamente, receberem dos políticos inescrupulosos a migalha humilhante da transação espúria e corrupta. CICLO FECHADO!

Entretanto, resta ainda outra sequela: a abominável compra e venda do voto como uma absconsa chaga cancerosa, tem atravancado nosso progresso e subjugado nosso povo, não permitindo que uma ponderável fatia de nossa gente tenha acesso à riqueza da terra, que Deus deixou, indiscriminadamente, para usufruto de todos. 

Contudo, este status não é definitivo e urge de solução. 

Cabe a cada um de nós, agraciados que somos pelo escrúpulo e pela sensibilidade político-social, encetarmos um trabalho tendo por escopo o esclarecimento de nossa gente, até revertermos este caótico quadro, inexoravelmente, pernicioso.

Retornemos a mais este gesto fecundo e profícuo da AFAI.

A arte é um dom, via de rega, inato. Pode ser burilada. A ciência é o resultado da leitura, pesquisa, paciência, dedicação e perseverança. As letras carecem da leitura, seu combustível inexaurível.

Precisamos nos transformar em, pelo menos, bons leitores para sair do marasmo em que estamos mergulhados.

Somos uma população ordeira, trabalhadora, pacífica, de bons costumes, mas na hora precisa, arrojada. Óbvio, há os que tergiversam e prevaricam, a maioria, porém tem arrostado a vida, enfrentando com denodo os mais diversos percalços do cotidiano.

Aos trancos e barrancos temos crescido, mas muito mais poderíamos ter avançado, se houvéssemos nos dedicado à leitura.

Lembro-me da preocupação de meu professor de português no Seminário Diocesano de Sobral, D. Austregésilo de Mesquita, quando dizia: “se eu conseguir despertar em meus alunos o gosto pela leitura, já me dou por satisfeito”.

Um povo que lê é um povo competente e, portanto, idôneo e cônscio para reivindicar e exigir a satisfação de suas necessidades. Uma população que lê, rápido se transforma em POVO! Ao ser indicado, há poucos dias, pela rede Globo de Televisão para receber o troféu Mário Lago, o ator Toni Ramos comentava: - recebia aquele prêmio graças, em grande parte, a um tio seu que o incentivara a ler.

Há poucos anos, uma propaganda do exército brasileiro na televisão, repetia a frase de Monteiro Lobato: um país se faz com homens e livros.

E de Academia para Academia, nosso poeta Castro Alves, patrono de uma das cadeiras da Academia Brasileira de Letras, com muita propriedade, em 1867, falando de seu poema o Livro e a América, dizia: “o que é necessário é que o povo pense, que descubra através da cultura oriunda da leitura a sua posição de massa explorada, e com fulcro na leitura se liberte da opressão”. 

E num texto do mesmo poema, Castro Alves brada:

Filhos do século das luzes! 

Filhos da Grande nação! 

Quando ante Deus vos mostrardes, 

Tereis um livro na mão: 

O livro – este audaz guerreiro

Que conquista o mundo inteiro

Sem nunca ter Waterloo... 

Éolo de pensamentos, 

Que abrira a gruta dos ventos

Donde a igualdade voou!... 

Por isso na impaciência

Desta sede de saber, 

Como as aves do deserto

As almas buscam beber... 

Oh! Bendito o que semeia

Livros... livros à mão cheia... 

E manda o povo pensar! 

O livro caindo n’alma

É germe – que faz a palma.

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