Crônicas

José Solon Sales  e Silva

Titular da Cadeira nº 34

 

ZEQUINHA, MINHA MADRINHA

            Madrinha Zequinha que não é minha madrinha. E é. Mas não é. Seu nome? Maria Taumaturgo Farias Dias. Chamada Zequinha, por quê? Por ser neta de mãe Zequinha, na verdade Maria José. Luiz foi seu pai, filho caçula da Mãe Zequinha. Tempos bons. Tempos em que os pais nomeavam os filhos com os nomes dos antepassados para perpetuar a memória.

            Há poucos anos participei do “Chá da Zequinha” quando madrinha Zequinha inteirou 80 anos. Feliz estava eu lá com alguns da minha família. Zequinha nasceu em Crateús. Filha do Luiz Farias, tamborilense casado com tia Fransquinha Taumaturgo, ipuense. Luiz, coletor de impostos, vivia de arribada e foi parar no Ipu. Ali moravam Antônio  Solon e Massales, seus sobrinhos, filhos da Joaninha, sua irmã mai velha e que criou os irmãos mais novos.

            Fransquinha e Luiz tiveram Talma, Zé Reizinho, Sinhazita e Zequinha, minha madrinha. Mulheres bonitas, vaidosas, arrumadas. Madrinha Zequinha é na verdade madrinha da minha irmã, e por influencia desta adotei-a como madrinha. Somos primos em segundo grau e ela prima legítima de meus pais. Houve um tempo em que os primos casavam-se entre si, para segurar o poder, o poder da terra principalmente.

            Madrinha Zequinha casou-se com um Taumaturgo, sobrinho da tia Franquinha ipuense das bandas de Pires Ferreira. José Dias ou Zé Dias, como era mais conhecido, acrescido de Taumaturgo. Homem distinto, atencioso, educado, cordial. Fabricante de rapadura e cachaça lá pelas bandas do Escondido. E como eu gostava de ir por lá quando criança e como ele sempre nos tratou bem. Saia de casa, do centro do Ipu, em pernas de pau para chegar mais rápido e ali sentir o aroma inconfundível das moagens e degustar dos alfenins quentinhos feitos na cana raspada.

            Zé Dias era um sábio. Isso tudo sem falar das temporadas no sítio Tapera, depois da Várzea do Jiló, juntamente com a tia Fransquinha. Ainda criança meus pais me incutiram o respeito e a admiração à tia Fransquinha. Ela era desquitada do tio Luiz. Curiosamente não era Fransquinha Farias e sim Fransquinha Taumaturgo. Mulher forte, sagaz, guerreira. Educou os filhos sem marido ai pelos anos quarenta, cinquenta. Coisa difícil. Mas tinha a Tapera. Filhos lindos, inteligentes, aplicados. A eles agregaram-se outros bons, Dr. Féliz e Zé Dias, principalmente.

            Minha madrinha, que não é minha madrinha, mas sinto como se fosse, sempre me conta: “quando sua mãe ficou grávida de você, ela tinha vergonha, porque estava com quarenta anos” Vejam como sempre fomos preconceituosos. Final dos anos cinquenta era vergonhoso uma mulher aos quarenta anos engravidar. Pasmem, nasci de parto normal com minha mãe já aos quarenta ou mais de anos. Coisa boa. A outra coisa boa? Madrinha Zequinha bordou a mão todas as minhas camisinhas. Pena que não as tenho mais. Mas há uma fotografia do meu batizado, após oito dias de nascido com a roupa devidamente bordada por madrinha Zequinha.

            Zequinha, como chamavam a minha bisavó. Zequinha, madrinha da irmã querida, Socorro. Revivendo as origens. Tio Luiz Farias e tia Fransquinha Taumaturgo; Zé Dias e Zequinha que geraram Célia, Irma, Marcos, Márcio e estes que geraram mais os netos e até bisneto. Primos queridos, amados. Todos nós ipuenses de muito amor a esta terra abençoada.

            Rua Padre Correia em Ipu. Até hoje ela esta lá. Inteligente, elegante, bela, integra, viúva feliz e contínua contadora das boas histórias de família. Espírito iluminado e de lucidez aguçada e sempre elegante na arte de bem receber com bolos e guaraná Wolga. Minha madrinha.

Cocó, 06/02/2019

 

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