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João Pereira Mourão

Titular da Cadeira número 18

RIACHO IPUÇABA: VERGONHA OU HONRA E CARÁTER DO IPU?

 

Uma das emoções mais poderosas que se é capaz de sentir é também a que tanta gente experimenta como, provavelmente, o mais universal, impulsivo e intenso: o gesto de cobrir o rosto com as mãos. É a expressão física de uma emoção que não há quem já não tenha tido o desprazer de experimentar e que, além disso, costuma manifestar-se traiçoeiramente, quando menos se espera – a vergonha.

Se há algo que a vergonha tem horror é de se mostrar. Cada qual sabe, por experiência própria, que é mais fácil admitir uma porção de emoções consideradas negativas, como a raiva, a frustração, até o medo, do que ser obrigado a reconhecer publicamente que praticou algo socialmente reprovável, um ato vergonhoso – exceto, pelo que se vê e se ouve - para a maioria dos políticos profissionais.

Pode-se sentir vergonha virtualmente por qualquer coisa, mas na nossa cultura é difícil encontrar uma causa tão profundamente arraigada como o corpo humano, cujas "vergonhas" devem permanecer cobertas assim que se passa da idade da inocência – ou, na metáfora bíblica, desde que Adão e Eva provaram do fruto da árvore do Bem e do Mal. A nudez e a sexualidade, apesar de todas as voltas e reviravoltas por que já passou o mundo, no interminável capítulo da chamada moral sexual, continuam a ser o território predileto dos conflitos sobre vergonha ou falta dela.

A vaidade ferida envergonha feito um pecado. Sabem muito bem disso os jornalistas e escritores, pois, para eles, a maior vergonha é escrever e não ser lido. Outra profissão que provavelmente reúne o maior elenco de vaidosos de que se tem notícia é a de ator, e o que faz um ator passar vergonha é, com certeza, sentir-se rejeitado pelo público.

A noção de honra é o valor que a pessoa julga ter diante de sua comunidade, e a vergonha é a perda dessa condição honrada. O Riacho Ipuçaba, portanto, pode ser a relação entre vergonha, de um lado, e honra e caráter, de outro. Só depende do que ainda for feito ou não por ele. Pede-se, no entanto, que os políticos não permitam a sociedade ipuense "morrer de vergonha", pelo desaparecimento do provedor da turística Bica do Ipu – o agonizante Ipuçaba!

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