Maria de Jesus Viana
A CASCATA
Eu também nunca escrevi
Um poema à terra amada...
Nem à musa dos poetas-
Bica esplêndida, encantada!
Minh’alma se extasia
Ao contemplar, enlevada,
Majestosa e imponente
A muralha de granito,
Que se curva, reverente,
Aos pés de Deus, despojada.
Sempre amei a minha terra
E admiro a cascata
Desprendendo-se da serra,
Dançando por sobre a mata,
Se espreguiçando, brejeira,
Revoluteando, faceira,
Como moça enamorada.
Vai espargindo, ondulada,
Sua espuma de cristal,
Balouçando, voluptuosamente,
Seu vestido transparente,
Num bailado sensual.
Lânguida, serena, translúcida
A água do Ipuçaba
soluçante se debruça
No alto da Ipiapaba.
E vem caindo de leve,
Espalhando-se na terra,
Adelgaçada e dispersa
Pelo côncavo da serra,
Refletindo em cada gota
Rútilos raios de sol
Transformando-se em prismas
Irisados de arrebol.
As ninfas que habitam as matas
Que se banham nas cascatas,
Nas noites enluaradas,
Adejam todas as flores
Salpicadas de mil cores,
Com nuanças prateadas...
Borrifadas pelo orvalho
Que a noite vem derramar,
Elas cantam e dançam, embaladas
Pela cantiga da Bica,
À luz azul do luar.
Nessas grimpas onde ainda ecoa
O brado de guerra selvagem
Tabajara na pocema...
Tal qual uma doce miragem,
A Bica doa, incessante,
Seu véu claro, esvoaçante.
Para enfeitar Iracema.