Cadeira nº 12
Filho único do casal Coronel Antonio Manoel Martins e de Adelaide Timbó, Abílio Martins nasceu na cidade do Ipu no dia 21 de novembro do ano de 1883.
Por três anos freqüentou o curso de Medicina na Universidade Federal de Pernambuco, mas insatisfeito, preferiu transferir-se para a cidade do Rio de Janeiro onde se bacharelou em Ciências Jurídicas e Sociais.
Por inclinação ao jornalismo, Abílio Martins não abraçou com amor a causa que lhe deu pergaminhos – O Direito.
Poeta, prosador e dramaturgo, Abílio escrevia para jornais de Fortaleza e fundou no município do Ipu, juntamente com Thomaz de Aquino Correia e Eusébio de Sousa, o jornal Correio do Nordeste, o mais importante periódico fundado nesta cidade e de circulação mais demorada (1918 – 1924).
Foi, também, fundador do Gabinete de Leitura e membro da Associação 7 de Setembro, na cidade do Ipu.
Muito jovem, aos 29 anos tornou-se o nome mais influente do Partido Democrata do Ipu tornando-se Deputado Estadual por duas legislaturas e depois chefe de polícia e segurança pública do Estado do Ceará no governo de Justiniano de Serpa (1920 – 1923).
Como deputado apresentou em 1913, na Assembléia Legislativa, um projeto que autorizava a contratação de serviços de canalização de água para a cidade de IPU.
Ainda, sob a sua intercessão como deputado, conseguiu durante a seca de 1919 obras federais para a construção do açude Bonito e da estrada que liga os municípios de Ipu – São Benedito.
Abílio Martins faleceu precocemente, aos 39 anos, no dia 26 de setembro de 1923, quando exercia o cargo de Chefe de Polícia do Estado.
No mesmo ano de sua morte, o Ipu prestou-lhe homenagem dando o seu nome à sua principal praça e a Estação Ferroviária da então localidade de Curupati.
Do mesmo modo, a cidade de Fortaleza prestou-lhe homenagem dando o seu nome a uma das ruas do bairro da Parquelândia.
Abílio Martins casou-se com Celina Carvalho Martins com quem teve cinco filhos: José Carvalho Martins, bioquímico no Rio de Janeiro tendo falecido no ano de 2000; Francelina Martins Araujo, viúva do ipuense Dr. Francisco Araújo, falecida no ano de 2002; Adelaide Carvalho Martins, falecida aos 18 anos de idade; Antonio Carvalho Martins, funcionário público federal, casado com Maria Auri Lourenço Martins, falecido no ano de 1992 e Francisco Guarany Carvalho Martins, contabilista, casado com Tereza Bandeira Martins, falecido em 1999.
A seguir palavras do amigo Antonio Sales a seu respeito: “Abílio Martins possuía o dom da forma e tinha muito espírito natural, que pode não ser infinitamente espiritual, mas é sempre muito engraçado.
Antes que os tanques adotassem o lema “keep smilling”, já Abílio olhava sorrindo para o mundo, do qual desapareceu tão prematuramente... Parece que seus olhos havia um raio que descobria facilmente o lado cômico que todas as coisas e pessoas têm. E era esse ponto risível que ele gostava de focalizar para divertir-se, para dar expansão à sua veia cômica, de que nunca usou para ferir alguém profundamente.
Seu sensível coração, o coração que o traiu de maneira tão súbita e prematura, o impedia de magoar a sério as vítimas de suas troças”.
Muito afetivo com a família, quando se inspirava nos filhos produzia verdadeiras jóias de sentimento e graça. Seja o exemplo da poesia dedicado à sua filha Francelina.
Bilhete à Francelina
Ah, minha filha eu te mando
(e estou certo que ele vai...)
Nos versos que estou traçando,
O coração de teu pai.
Meu coração é sujeito
Alvoroçado na vida:
Já está batendo no peito
Como quem está de partida.
Ah, que ele é tão teu amigo
Que, embora siga sozinho,
Para encontrar-se contigo
Duvido que erre o caminho.
E sobre o seu espírito natural e engraçado encerro a sua biografia lendo a poesia “Beijos”
Beijos de mãe são harpejos
De doces, nobres encantos
Tão diferente dos beijos
Que dão as beatas nos santos...
Beijo de moça bonita
Faz bem aos nervos, faz bem!
Mas beijo de sogra é fita
Que não ilude a ninguém...
De beata um beijo, eu digo,
Que é melhor morrer à míngua,
Só por causa do perigo
Da vizinhança da língua...
Aquele beijo, criança
Que prometeste, confessa,
Nunca passou de esperança,
Nunca passou de promessa.
Talvez que tenham contado,
Com simulado escarcéu,
Que dar-se um beijo é pecado,
Que fecha as portas do céu.
Mas que impostura! Desejo
Que te convenças, meu bem
Mesmo às ocultas um beijo
Nunca faz mal a ninguém.
Tantos encantos encerra
O beijo, é coisa tão boa:
Quem não dá beijo na Terra,
Deus lá no céu não perdoa.
Biografia lida pelo acadêmico Abílio Lourenço Martins durante a sua posse na Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes, no dia 16 de janeiro de 2009.