Crônicas

Francisco de Assis Martins

 

Transportei-me para o ano de 1984, quando numa tarde de uma quarta-feira de trevas rumei com minha famíli

a para uma das fazendas da família do saudoso Valdemar Ferreira de Carvalho. Era Semana Santa, o inverno estava copioso e os açudes já sangravam.

Chegamos à noitinha naquele recanto de belezas raras. Ao por do sol o reflexo dos seus raios eram vistos maravilhosamente nas águas dos açudes. As Juritis entoam o seu arrolho doce anunciando o anoitecer.

Muita coalhada, aquela escorrida, tapiocas com queijo fresco e tudo mais. Era o nosso jantar

Do alpendrado da Casa Grande já podíamos contemplar uma Lua Chorosa vez por outra entre as nuvens e em outros momentos quase límpida no azul do firmamento.

Uma noite maravilhosa cheia de encantamento e bondade.

Aos primeiros sinais do novo dia, levante-me, fui ao curral onde os nossos moradores faziam a ordenha. Leite mungido e mais e mais.

Ainda estava turvo quando o Rei dos Quintais anuncia o alvorecer. Um piado aqui outro acolá, era a passarada que despertava para mais um dia. Parei e escutei. Eram vários pássaros que anunciavam o amanhecer.

De repente os sons se misturam num processo de agridocilidade sem igual, muitos cantos, muita sonoridade naquela linda manhã.

Recostei-me em uma das estacas da cerca e ao contemplar um juazeiro pude ouvir a canção lírica de um passarinho de plumagem amarela com ponta de assas e cabeça preta; era um Pintassilgo. Passei a admirá-lo, pois o pequeno pássaro entoava uma sinfonia incrível com uma orquestração admirável e bela.

As notas eram de uma perfeição sem igual, tão pequeno e tão poderoso capaz de transmitir para o Universo uma canção linda a canção da beleza de um alvorecer de imorredouras saudades.

E a pequena ave continuava na sua a sua doce e suave cavatina deixando-nos cada vez mais embevecidos.

As notas musicais iam se formando nos ares e se mesclavam com os outros cantos de aves que ali aportavam. Uma singular orquestração de sons puros e reais que a natureza junto aos meus ouvidos me proporcionava naquele momento.

O Sol ainda tingido por algumas nuvens rompia o dia e sua claridade intensa naquele dia. A folhagem dos pés de marmeleiro dos com suas flores perfumadas, e os paus de sabias enverdecidos com a chegada das chuvas uma coisa própria do nosso sertão. Ainda estavam orvalhados recebia os raios do astro rei naquela manhã que ficou distante e eu não esqueci.

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