Titular da Cadeira nº 38
O SUICÍDIO NO GALINHEIRO
A vida na fazenda é cheia de emoções! O dia começa mais cedo, independente do nascer do sol.
Fui convidada a passar um final de semana na fazenda Refrigério dos Carneiro Mesquita, de propriedade do meu cunhado Otonil Mesquita Carneiro. Preparei-me psicologicamente para vivenciar a vida no campo e aproveitar o máximo possível tudo que estivesse em minha volta. Pensando assim fui dormir cedo, para acordar com bastante disposição.
Acordei na madrugada para ir ao banheiro e ao abrir a porta do quarto ouvi barulhos de aboios vindo do lado dos currais, mesmo ainda escuro, como já tinha dormido bastante e já sem sono, me levantei e me direcionei aos currais e vi e ouvi o agitamento do gado, pois os vaqueiros estavam tangendo algumas reses para entrarem numa carreta, pois iriam ser transportadas para a fazenda serra azul.
Ainda de camisola e um sobre tudo, subi nas tábuas do curral e dali fiquei vendo aquele espetáculo que a vida no campo nos proporciona. Lá no horizonte o sol já se preparava para nascer, a brisa fria e com cheiro de natureza batia em meu rosto e me dava a sensação de liberdade, me trazia as mais doces lembranças do meu tempo de menina e adolescente, quando passava as férias na fazenda Flores, de propriedade do meu pai; Antônio Mesquita Parente. Somente recordações maravilhosas me chegavam à mente e me permiti não sei por quanto tempo viver tudo aquilo! Mas como estava ali para viver com intensidade aquele maravilhoso momento, deixei as lembranças de lado e procurei perceber o que estava acontecendo em minha volta.
Com o aboio dos vaqueiros e o mugido do gado, as aves do galinheiro, que ficava pegado aos currais, começaram a agitar-se. Este agitamento me chamou a atenção, pois vi um bonito galo cortejando as galinhas e estas em bando ficavam somente a esnobá-lo. Mas o galo era galante e bonitão e com isto não desistia de assediar todas as galinhas. As galinhas estavam tristes, pois não se sentiam importantes nem exclusivas para ele, no entanto ele queria namorar todas e elas não gostaram disso. Resolveram consultar outro galo que estava em outro andar do galinheiro e depois de uma longa assembleia todas resolveram dá as costas para ele e ficarem juntas, tecendo a madrugada juntas ao galo respeitador e conselheiro. Mas o galo galante e bonitão, não se deu por perdedor, partiu para o ataque e foi tirar satisfações com o galo conselheiro. Foi aí que o pior aconteceu; as galinhas partiram para cima e deram uma grande surra nele, que já não mais aguentando correu para a briga e foi bicar o galo conselheiro. Este vendo a falta de respeito e o insulto foi para cima do galo bonitão, que, temendo apanhar e ressentido pelo fora das galinhas, resolveu dar cabo de sua vida e jogou-se em direção a duas tábuas, ficando ali enganchado, dependurado pelo bico.
Vi aquela cena grotesca, mas não pude fazer nada, pois estava do lado oposto à cerca do galinheiro onde ele se jogou e fiquei esperando que os vaqueiros terminassem de tanger as reses, para contá-los e eles prestarem socorro ao galo, que no mínimo iria para a panela. Mas só puderam fazer isto, somente às seis e trinta da manhã, quando foi terminado de transportar todo gado para a carreta e fazer a ordenha das vacas. Nesta hora o galo já estava duro e esticado e dali foi levado direto para uma cova aberta por eles, do outro lado dos currais. E assim foram minhas observações no primeiro nascer do sol na fazenda Refrigério dos Carneiro Mesquita!